Intercessão de Santos – Onde está na Bíblia?
A doutrina da intercessão dos santos é uma crença amplamente defendida pela Igreja Católica, baseada na ideia de que os fiéis falecidos que morreram em santidade, agora na presença de Deus, podem interceder por nós junto ao Pai. Essa prática é frequentemente questionada por aqueles que seguem o protestantismo, utilizando a pergunta: “Onde está na Bíblia?”. Neste artigo, exploraremos as passagens bíblicas que fundamentam essa doutrina e examinaremos fontes teológicas que ajudam a compreender essa prática de forma mais profunda.
Intercessão dos Santos na Escritura
Embora a Bíblia não tenha um versículo específico que diga claramente “os santos podem interceder por nós”, existem várias passagens que apontam para a intercessão em geral e a relação entre os fiéis, tanto os vivos quanto os mortos. Vamos ver alguns desses trechos:
Hebreus 12:1 – “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande núvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que nos rodeia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta.” Este versículo fala sobre uma “nuvem de testemunhas”, indicando que os santos que vieram antes de nós estão conscientes de nossa jornada e nos acompanham. A expressão sugere uma proximidade dos santos conosco e um envolvimento ativo, que teólogos interpretam como um apoio espiritual, que pode incluir a intercessão.
Apocalipse 5:8 – “Quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciões prostraram-se diante do Cordeiro, cada um deles tendo uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.” Este versículo mostra os vinte e quatro anciões, que representam os santos no céu, oferecendo orações diante de Deus. Essas taças de incenso simbolizam as orações dos fiéis, e sugere que os santos estão envolvidos na apresentação das nossas orações a Deus.
Apocalipse 8:3-4 – “E veio outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso, para o misturar com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos.” Mais uma vez vemos a imagem das orações dos santos sendo oferecidas a Deus, demonstrando a ideia de que os santos estão em posição de interceder. O incenso é frequentemente usado como símbolo de oração na Escritura.
2 Macabeus 15:14 – “E Onias falou dizendo: ‘Este é Jeremias, o profeta de Deus, que muito ama os seus irmãos e ora continuamente pelo povo e pela cidade santa’.” Embora os livros de Macabeus sejam considerados deuterocanônicos, ou seja, não aceitos por todas as tradições cristãs, eles fazem parte da tradição católica e ilustram a intercessão de um santo (o profeta Jeremias) em favor do povo de Israel.
A Teologia da Intercessão dos Santos
A teologia católica vê a Igreja como um corpo único, chamado Comunhão dos Santos, que inclui os fiéis na Terra, as almas no purgatório e os santos no céu. Todos estão unidos em Cristo e podem orar uns pelos outros. Esse conceito está intimamente relacionado às palavras de São Paulo em 1 Coríntios 12:26: “Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele”.
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são dois dos grandes teólogos que defenderam a intercessão dos santos. São Tomás de Aquino, por exemplo, em sua obra Suma Teológica, argumenta que os santos, estando em plena comunhão com Deus, têm um papel de intercessão, pois são parte do Corpo de Cristo e continuam exercendo a caridade para com os irmãos que ainda estão na Terra.
O Papel dos Santos na Vida Cristã
Os santos são exemplos de vida cristã e de virtude, e, estando junto a Deus, podem interceder em nosso favor. Assim, recorrer à intercessão dos santos não é diferente de pedir a um amigo que ore por nós. A diferença é que esses “amigos” já estão na presença direta de Deus, tendo um relacionamento íntimo com o Criador.
Evidências na Patrística
São Clemente de Alexandria (século II-III) – “Desta forma é verdade que o verdadeiro cristão sempre ora. Ele também ora na sociedade dos anjos como já estando entre os anjos e ele nunca está fora dessa comunhão sagrada. E, embora, o cristão ore sozinho, ele tem o coro dos santos ao seu lado.”
(Miscelâneas 7, 12)
São Gregório Nazianzo (século IV) – “Sim, eu estou certo de que a intercessão do meu pai é agora muito mais valorosa do que sua instrução nos dias de outrora, porque agora ele está mais próximo de Deus. Agora que ele já sacudiu as suas penas corporais e livrou a sua mente do barro que o obscurecia, ele consegue conversar face a face com Aquele que tem a mente mais pura.”
(Orações 18,4)
São João Crisóstomo (século IV-V) – “Aquele que veste púrpura abraça os túmulos e deixando de lado o seu orgulho implora aos santos para que estes sejam seus advogados diante de Deus. E aquele que usa a coroa implora ao fabricante de tendas e ao pescador que, embora estejam mortos, sejam os seus padroeiros.”
(Homilias em 2 Coríntios 26:2:5)
Santo Agostinho (século IV-V) – Santo Agostinho evidencia a devoção aos santos e inclusive faz menção à devoção às relíquias. Confira:
“Revelaste em visão ao teu bispo Ambrósio o lugar onde se encontravam os corpos dos mártires Protásio e Gervásio. Por longos anos os conservaste incorruptos. (…) Descobertos e desenterrados, foram os corpos transportados com todas as honras, para a basílica. Verificou-se, durante o trajeto, não só que possessos se livravam dos demônios, como também um cego de muitos anos, cidadão bem conhecido na cidade, (…) obteve permissão para tocar com o lenço o caixão dos teus santos, cuja morte é tão preciosa a teus olhos. Logo que tocou o caixão e encostou o lenço nos olhos, estes imediatamente se abriram.”
(Confissões, livro 9, parágrafo 7)
Conclusão
Portanto, a prática da intercessão dos santos está fundamentada na compreensão da comunhão dos santos e em várias passagens bíblicas que sugerem a intercessão dos fiéis que já estão na presença de Deus. Trata-se de uma expressão da unidade da Igreja, que inclui tanto os vivos quanto os mortos, todos unidos no amor de Cristo. E vimos que já nos primeiros séculos isso era crido.
Oremos uns pelos outros, pois a oração em comunidade é uma forma poderosa de demonstrar nossa unidade em Cristo e nosso amor pelos irmãos. Quando oramos uns pelos outros, estamos imitando a caridade dos santos no céu, que intercedem continuamente por todos nós diante de Deus. A oração mútua é um lembrete de que fazemos parte de um só corpo, a Igreja, e que nossas orações têm valor tanto na Terra quanto no céu.