Fé Católica

FÉ E OBRAS – O Caminho da Salvação segundo a Igreja Católica e o Protestantismo

Neste artigo, exploraremos o tema ‘Fé e Obras’, uma questão amplamente debatida entre católicos e protestantes. O protestantismo segue o princípio do SOLA FIDE, ou seja, de que somos salvos somente pela fé. Já nós, católicos, acreditamos que somos justificados pela fé e também pelas obras.

Vamos estudar isso com base no que a Igreja Católica tem ensinado ao longo dos séculos, desde a época dos apóstolos. Quando afirmamos que a Igreja ensina, estamos dizendo que os apóstolos também ensinaram, pois a Igreja Católica preserva fielmente o que os apóstolos transmitiram, repassando esse ensinamento de geração em geração pela tradição católica e apostólica. Se você tem dúvidas, recomendo estudar o cristianismo primitivo, a coleção dos escritos dos Pais da Igreja (Patrística) e outras fontes. A pergunta que precisamos responder é: 

Somos salvos “somente pela fé” ou pela “fé e obras“?

Grande parte do conteúdo deste artigo sobre ‘Fé e Obras‘ foi extraída do curso que fiz com o professor Eduardo Faria, ex-pastor protestante, agora católico e defensor da Santa Igreja. Recomendo que estudem sua história. No curso dele, ele apresenta uma explicação clara e objetiva sobre o tema, que me cativou e por isso decidi usá-lo como base, enriquecendo-o com reflexões adicionais.

Para defendermos nossa fé católica quando questionados, é essencial compreender ambas as visões. Vale reforçar que este conteúdo não tem a intenção de criticar ou atacar nossos irmãos protestantes. Devemos entender a linha de pensamento e a crença protestante para entender as diferenças em relação ao que nós, católicos, acreditamos.

Muitas vezes, somos criticados não só pelos irmãos protestantes, mas também por seguidores de outras doutrinas. Por isso, é importante entender o ponto de vista de outros e saber como nos defender. É triste ver tantos irmãos divididos, incluindo católicos que se afastam da Igreja por falta de entendimento da doutrina, de estudo da história do cristianismo, ou por se deixarem seduzir por outras religiões. Às vezes, isso ocorre até por orgulho, quando deixam de estudar a fundo o cristianismo.

Acredito que Deus não deseja ver seus filhos divididos; quem se alegra com isso é o “encardido”, que faz de tudo para separar os cristãos. Temos a obrigação, como batizados e membros do povo de Deus, de defender a nossa fé, trazer luz àqueles que estão na escuridão, oferecer compreensão e ensinamento aos que desconhecem por falta de conhecimento, e abrir os olhos daqueles que foram enganados ou seduzidos pelo “encardido”.

Sola Fide: O Ensino Protestante

Para compreendermos a doutrina protestante, é essencial começar pelo conceito central defendido por Martinho Lutero: “A doutrina pela qual a reforma [protestante] permanece de pé ou cai é a justificação pela fé SOMENTE.” Ao traduzir a Bíblia para o alemão, Lutero apresentou Romanos 3,28 da seguinte forma: “Pois afirmamos que o homem é justificado pela fé SOMENTE, sem as observâncias da lei.” Esse acréscimo da palavra “somente” não está presente no texto original, o que aponta para uma divergência em relação ao conteúdo bíblico. Lutero justificou essa alteração alegando que o termo adicional ajudaria a “clarear” a interpretação do texto, embora o conceito de “somente pela fé” não apareça nas Escrituras em nenhum lugar.

Esse ponto merece atenção, pois frequentemente católicos são acusados de ensinar doutrinas sem respaldo bíblico, enquanto a Igreja Católica sustenta seus ensinamentos também na tradição apostólica.

O teólogo protestante John Frame, por exemplo, define a fé salvadora como composta por três elementos: conhecimento, crença e confiança. Já Kendell H. Easley, em seu manual de interpretação bíblica, ao examinar a carta de São Paulo aos Gálatas, afirma que o princípio da “Fé Somente” é central nesta carta, insistindo que “nenhuma obra humana pode contribuir para a justificação de uma pessoa diante de Deus.

No entanto, essa interpretação revela uma questão conceitual. Em Gálatas, Paulo não rejeita as obras de caridade resultantes de uma fé ativa; ele critica, sim, a observância das regras cerimoniais judaicas como caminho para a salvação.

Vejamos alguns versículos que são comumente utilizados por protestantes para fundamentar o conceito de justificação somente pela fé:

      • Com efeito, não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a salvação de todo o que crê, ao judeu em primeiro lugar e depois ao grego.” (Rm 1, 16)

      • Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2, 8-9)

      • Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3, 16)

      • Porque julgamos que o homem é justificado pela fé, sem as observâncias da lei.” (Rm 3, 28)

    Exploraremos a seguir como o protestantismo entende a salvação, ou soteriologia. É importante notar que essa compreensão não encontra respaldo histórico na Igreja. O teólogo protestante Alister McGrath, em seu livro Iustitia Dei, destaca que “o entendimento da Reforma sobre a natureza da justificação deve ser considerado como uma genuína novidade teológica.

    O protestantismo aborda a salvação através dos conceitos de Substituição Penal, Graça Extrínseca e Justiça Imputada. A seguir, aprofundaremos cada um desses aspectos para entender melhor essa perspectiva doutrinária.

    Substituição Penal

    A teoria da Substituição Penal ensina que Jesus foi punido no lugar dos pecadores para satisfazer a ira de Deus, permitindo o perdão divino para aqueles que acreditam em Cristo. Nessa visão, o perdão de Deus é essencialmente um ato jurídico. O teólogo católico Gerald O’Collins observa que, para os adeptos desta teoria, “Jesus crucificado foi entendido como objeto da cólera divina, substituto do ser humano pecador. Nossas transgressões foram imputadas a ele, e ele foi punido em nosso lugar.

    Essa doutrina, promovida por Lutero e Calvino, não faz parte do ensino da Igreja Católica. O raciocínio subjacente ao pensamento protestante pode ser resumido assim: “Deus puniu Jesus no meu lugar; se eu crer nisso, então estou salvo.” No entanto, essa perspectiva levanta questões importantes:

        1. Um juiz irado punindo um inocente no lugar de um culpado é algo que nem os padrões humanos aceitariam.

        1. A Bíblia ensina que Deus odeia quem derrama sangue inocente; por que então Ele o faria?

        1. Se Deus nos instrui a perdoar gratuitamente, por que, para nos perdoar, Ele precisaria punir Jesus?

      Ainda que o sacrifício de Jesus possua aspectos substitutivos e penais, interpretar esse ato como uma mera punição de um inocente para satisfazer a ira divina é um entendimento que a Igreja Católica nunca ensinou.

      Graça Extrínseca

      A doutrina da Graça Extrínseca descreve a graça como uma intervenção puramente externa, que cobre os pecados do homem sem transformar sua essência. Lutero resumiu essa ideia com frases marcantes: “Nós somos como um monte de esterco coberto de neve” e “A graça de Deus nos envolve como um manto, mas nos deixa exatamente como somos.

      Nesse contexto, a graça não transforma o ser humano, mas apenas altera sua posição legal diante de Deus: a pessoa, legalmente culpada, é “justificada” perante Deus, sem que haja uma verdadeira mudança interior. Esta visão, influenciada pelo nominalismo, implica que não há uma verdadeira participação do homem em Deus, pois os seres, segundo o nominalismo, não compartilham uma comunicação real entre si. Lutero definiu isso como “simul iustus et peccator” (ao mesmo tempo, justo e pecador), entendendo a condição de “justo” como situacional perante Deus.

      Sobre o nominalismo e suas implicações, discutiremos mais adiante. Em uma sequência futura de histórias, abordaremos também os santos, Maria, o Papa e o papel da Igreja no ministério de Cristo.

      Justiça Imputada

      A Justiça Imputada entende que Deus nos declara justos ao imputar sobre nós a justiça de Cristo. Não há transformação essencial, apenas uma mudança na condição judicial da pessoa diante de Deus. João Calvino, figura-chave do protestantismo no século XVI, descreveu a justificação como “a remissão do pecado e a imputação da justiça de Cristo.” Nesse sentido, a justificação é tratada como algo meramente jurídico, sem uma transformação intrínseca da pessoa.

      A Verdade na Bíblia

      Agora, exploraremos o ensinamento correto e verdadeiramente bíblico conforme ensinado pela Santa Igreja. A seguir, apresentaremos uma exposição sobre a redenção de Cristo, que remonta ao cristianismo primitivo e representa a verdadeira ortodoxia, a fé transmitida pela Igreja ao longo dos séculos.

      Substituição Sacrificial

      Na cruz, Jesus não é punido por Deus em nosso lugar; em vez disso, Ele se coloca em nosso lugar, oferecendo a Deus um sacrifício redentor por toda a humanidade. A morte de Cristo representa sua obediência amorosa e seu auto-sacrifício sacerdotal, expiando os pecados da humanidade. Esse sacrifício é ao mesmo tempo um ato de solidariedade e amor, onde Jesus assume a pena em nossa causa, sem ser uma “substituição penal” no sentido estrito.

      O conceito de “solidariedade penal” é sugerido pelo Padre Philippe de la Trinité, em sua obra La Rédemption par le Sang, para evitar mal-entendidos associados ao termo “substituição penal”. A expressão reflete a satisfação vicária de Cristo – Ele se une ao sofrimento humano e paga, de forma voluntária, o preço do pecado, mas sem atribuir a Deus o papel de juiz irado que exige essa pena.

      Abaixo, alguns versículos que reforçam a ideia de substituição sacrificial, destacando que Jesus se oferece como sacrifício expiatório:

          • Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.” (Mc 10, 45)

          • Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (Jo 10, 11)

          • O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai.” (Jo 10, 17-18)

          • Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos.” (1Tm 2, 5-6)

          • Também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos.” (1Pd 2, 21)

        Esses versículos demonstram que não é Deus Pai quem tira a vida do Deus Filho, mas o próprio Filho que voluntariamente se entrega em redenção por nós. Ao fazer isso, Ele nos oferece um modelo de sacrifício e amor que somos chamados a seguir, revelando uma compreensão profunda da redenção.

        Graça Infusa

        Diferente da noção de graça extrínseca, que cobre os pecados sem transformar o interior, a graça infusa opera uma mudança profunda e verdadeira. Essa graça é derramada no coração do fiel, conduzindo-o a uma conversão genuína e transformando-o a partir de dentro. Com a graça infusa, ocorre uma transformação ontológica – uma mudança no próprio ser. Como nos lembra São Paulo: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (2 Coríntios 5,17). A graça de Deus não altera apenas nossa condição perante Ele, mas nos transforma essencialmente, tornando-nos, de fato, novos e capacitados para uma vida de santidade.

        A diferença entre essa visão e a protestante está na crença de que, para os protestantes, a graça é extrínseca: cobre o pecado, mas não transforma o indivíduo interiormente. Nesse sentido, o protestantismo considera todos os fiéis “santos”, pois a graça cobre a todos, enquanto, no catolicismo, a graça é infusa e opera uma verdadeira transformação. Por meio dela, o cristão é habilitado a crescer continuamente em santidade, tornando-se uma nova criatura e vivendo em conformidade com o chamado à santidade.

        Justiça Trasnmitida ou Comunicada

        Enquanto a justiça imputada, defendida no protestantismo, trata da justiça como algo meramente situacional e jurídico, na visão católica, Deus não apenas declara o fiel como justo, mas o torna verdadeiramente justo. Ao nos comunicar a justiça de Cristo, Deus nos faz crescer em justiça e santidade. O teólogo Gerald O’Collins explica que é insuficiente entender a justificação apenas como um veredicto. Como São Paulo afirma em 2 Coríntios 5,21, Deus age para que “nós nos tornemos justiça de Deus”.

        Compreender a salvação apenas em termos de “substituição penal,” “graça extrínseca” e “justiça imputada” faz com que, para o protestantismo, a fé se resuma a uma crença fiducial, sem exigir transformação interior. No entanto, a fé, de acordo com a visão católica, envolve não apenas crença e confiança, mas também uma transformação verdadeira. Quando compreendemos que Cristo ofereceu um sacrifício genuíno e que Sua graça é infusa em nós e Sua justiça é comunicada a nós, somos habilitados a viver uma fé autêntica, aquela que, como diz São Paulo, “opera pela caridade” (Gálatas 5,6). Como ensina a Bíblia, uma fé sem obras é morta.

        O Ensino da Igreja Católica sobre a Verdadeira Fé

        A Igreja Católica ensina que a fé é essencial para a salvação, mas ela deve ser acompanhada pela perseverança e por uma vida de santidade:

        “Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n’Aquele que O enviou para nos salvar, pois ‘sem a fé não é possível agradar a Deus’ (Heb 11,6) e chegar à condição de seus filhos. Ninguém pode justificar-se sem ela, e ninguém que não ‘persevere nela até o fim’ (Mt 10,22; 24,13) alcançará a vida eterna” (CIC 161). A fé é um dom sobrenatural concedido por Deus. Como explica o Catecismo da Igreja Católica, “Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer na verdade’” (CIC 153). “Crer é o ato da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus” (CIC 154).

        O ato de fé, portanto, só é possível pela graça e pela ação do Espírito Santo.

        Na introdução de seu comentário à Carta de Paulo aos Romanos, Lutero argumenta que as boas obras, enquanto parte do processo de salvação, representam apenas uma tentativa inútil de conquistar a salvação por esforço humano. No entanto, ele também afirma que “a fé é a obra de Deus em nós, que nos transforma e nos dá um novo nascimento.

        A fé, na perspectiva católica, vai além de uma simples declaração de justiça: é um caminho de transformação interior, uma união com Cristo que nos capacita a viver uma vida de santidade.

        A Falsa Oposição entre Fé e Obras

        A divisão entre fé e obras como conceitos opostos é equivocada por vários motivos, dos quais destacaremos três principais:

            1. Redução da Fé Bíblica a uma Perspectiva Fideísta e Fiduciária
              Interpretar a fé apenas como uma confiança ou crença intelectual em Deus limita seu verdadeiro significado bíblico. Na Bíblia, a fé é muito mais profunda do que meramente acreditar. Embora a crença seja um componente, a palavra “fé” nas Escrituras é rica e exige ação e compromisso. Como Tiago 2,19 ressalta: “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios creem e tremem.” Ou seja, o simples ato de acreditar não basta. A fé bíblica implica obediência, como vemos em João 14,21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” Aqui, a fé envolve obediência aos ensinamentos de Jesus, revelando um compromisso que vai além da crença passiva.

            1. A Fé como uma Obra em Si
              A própria fé já é uma obra, realizada sob o impulso do Espírito Santo. Em João 6,29, quando questionado sobre como fazer a obra de Deus, Jesus responde: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou.” Assim, o ato de crer não é um mero assentimento mental; é uma obra que demanda resposta ativa e é movida pela graça. A fé, portanto, já é em si uma resposta e uma ação que corresponde à vontade divina.

            1. Confusão entre Obras de Misericórdia e “Obras da Lei”
              A teologia de Lutero frequentemente confunde as obras de misericórdia com as “obras da lei” referidas por São Paulo. Em Romanos 3,20, Paulo afirma: “Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei.” Contudo, na mesma carta, em Romanos 2,13, ele esclarece: “os que simplesmente ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” A aparente contradição é esclarecida ao observarmos que, em Romanos 3,20, Paulo está se referindo às leis cerimoniais judaicas (como circuncisão, dietas e festas judaicas). Em Romanos 2,13, no entanto, ele indica que desobedecer deliberadamente às leis morais impede a salvação. São Paulo reforça essa distinção em 1 Coríntios 7,19: “A circuncisão, em si, não é nada; a incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus.

          Lutero interpretou erroneamente essa mensagem, condenando as obras que a Igreja reconhece como obras de misericórdia – atos essenciais para a santificação e o crescimento na fé. Para a teologia católica, as obras de misericórdia são partes integrantes do processo de santificação, evidenciando uma fé viva e atuante, que é, como diz São Paulo, a “fé que opera pela caridade” (Gálatas 5,6).

          A Visão Católica sobre as Obras de Misericórdia

          A Igreja Católica ensina que as obras de misericórdia são ações de caridade que realizamos em benefício do próximo, atendendo às suas necessidades corporais e espirituais. Conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC 2447), as obras espirituais incluem instruir, aconselhar, consolar, confortar, perdoar e suportar com paciência, enquanto as corporais envolvem atos como dar de comer a quem tem fome, abrigar os desabrigados, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, e sepultar os mortos. A esmola, em particular, é considerada um ato fundamental de caridade fraterna e uma prática de justiça que agrada a Deus.

          Versículos Bíblicos sobre a Importância das Boas Obras

          A Escritura nos chama repetidamente à prática das boas obras como expressão de uma fé viva:

              • Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?” (Tiago 2,24)

              • Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma.” (Tiago 2,17)

              • Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas.” (Tiago 2,22)

              • Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.” (2 Coríntios 5,10)

              • Estar circuncidado ou incircunciso de nada vale em Cristo Jesus, mas sim a fé que opera pela caridade.” (Gálatas 5,6)

              • Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade; mas ira e indignação aos contumazes, rebeldes à verdade e seguidores do mal.” (Romanos 2,6-8)

            Esses versículos evidenciam que as boas obras não são apenas um complemento, mas uma parte essencial do processo de justificação e da conformação com Cristo. Gálatas 5,6 oferece uma chave para resolver a aparente oposição entre fé e obras apontada por Lutero: o que importa é a “fé que opera pela caridade.” Em outras palavras, não há conflito entre fé e obras; a verdadeira fé se manifesta naturalmente em boas obras.

            Fé que Transborda em Boas Obras

            O processo de salvação, para o catolicismo, envolve uma transformação contínua em que as boas obras nos justificam e moldam conforme a imagem de Cristo. A fé, então, não é apenas uma crença intelectual ou um assentimento passivo, mas uma ação que age por amor e transborda em gestos concretos de caridade. Essa compreensão elimina a dicotomia entre fé e obras, mostrando que a fé autêntica é aquela que se expressa na caridade e na prática da justiça.

            Salvos pela Fé ou pelas Obras?

            Os católicos são frequentemente acusados de ensinar uma salvação fundamentada no esforço humano, enquanto os protestantes, com sua ênfase em “somente a fé”, são vistos como dependendo exclusivamente da iniciativa divina. No entanto, ao longo deste estudo, vimos que essa oposição é falha, uma vez que a própria fé já é uma obra. A questão central, então, é: somos salvos pela fé ou pelas obras? A resposta é mais profunda: somos salvos pela graça de Deus, o favor gratuito que Ele nos concede.

            Conforme o Catecismo da Igreja Católica ensina:

                • A nossa justificação vem da graça de Deus. A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina e da vida eterna. (CIC 1996)

                • Esta vocação para a vida eterna é sobrenatural. Depende inteiramente da iniciativa gratuita de Deus, porque só Ele pode revelar-se e dar-se a Si mesmo. E ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças da vontade humana, como de qualquer criatura. (CIC 1998)

                • A preparação do homem para acolher a graça é já obra da graça. Esta é necessária para suscitar e sustentar a nossa colaboração na justificação pela fé e na santificação pela caridade. Deus acaba em nós o que começou, «porque é Ele próprio que começa, fazendo com que queiramos e é Ele que acaba, cooperando com aqueles que assim querem». (CIC 2001)

              A Igreja ensina que tanto a fé quanto as boas obras são fruto da graça de Deus. É Deus quem desperta em nós a fé e sustenta nossas boas ações. Como Santo Agostinho expressa, quando Deus “Vós sois glorificados na assembleia dos santos quando coroais os seus méritos, coroais os vossos próprios dons” Assim, nossas obras meritórias são, na verdade, reflexos dos dons que Ele nos concedeu.

              Salvação pela Graça, Manifestada na Fé e nas Obras

              Portanto, somos salvos pela graça de Deus, que age em nós mediante a fé e as obras. A fé genuína, conforme o ensinamento católico, é vivida e expressa em atos de amor e caridade, pois é a “fé que opera pela caridade” (Gálatas 5,6). Esta compreensão não é uma escolha entre fé ou obras, mas uma vida transformada pela graça, que naturalmente produz frutos em boas ações.

              Aqui está a bibliografia organizada para estudo, com os detalhes relevantes para uma consulta completa:

                  1. Curso Catolicismo Blindado – Professor Eduardo Faria (ex-pastor protestante, agora católico).

                  1. Frame, John M. Salvation Belongs to the Lord: An Introduction to Systematic Theology. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006.

                  1. Easley, Kendell H. Holman QuickSource Guide to Understanding the Bible. Nashville, TN: Holman Bible Publishers, 2002.

                  1. McGrath, Alister. Iustitia Dei: A History of the Christian Doctrine of Justification, Vol. II. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.

                  1. O’Collins, Gerald. “Roman Catholic Response,” in Justification: Five Views, editado por Paul Rhodes Eddy, James K. Beilby e Steven E. Enderlein. Spectrum Multiview Book Series. Downers Grove, IL: IVP Academic, 2011.

                  1. Provérbios 6,17 – Referência bíblica para estudo de passagens relacionadas à moral e ética cristã.

                  1. Calvino, João. Institutas da Religião Cristã, 3.11.2 – Estudo sobre a teologia reformada e a doutrina da justificação.

                  1. Santo Agostinho. De natura et gratia, 31: PL 44, 264 – Exploração sobre a natureza da graça e da justificação segundo Santo Agostinho.

                Essas fontes fornecem uma base sólida para aprofundar o entendimento da doutrina católica sobre a justificação, a graça e as obras de misericórdia, bem como o contexto teológico e histórico das perspectivas protestantes e católicas sobre o tema.

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